ERMO
Por que falar se quase
não sou ouvido?
Por que gritar se minha
voz se mistura com os trovejos da densa tempestade?
Caminham, tropeçam,
caem... esfolam, laceram, decaem
Quase não ouvem, pouco
enxergam, nada percebem
A noite se mostra escura,
trevas durativas se alargam ante os pés
Desalumiados e tíbios
prosseguem, se batem, se cansam esmorecem
Tornam-se cada vez mais
letárgicos, excessivamente apáticos
Quase não ouvem, pouco
enxergam, nada percebem
Subo ao monte e grito mais
alto num vociferar tresloucado
Sem efeito, sem
retorno, consequentemente sem consequência
Me canso, desfaleço, continua
o cortejo e mudanças não vejo
Quase não ouvem, pouco
enxergam, nada percebem
Quando parecia vencido,
sem forças caído
Uma luz me alcança, me
traz energia, fortalece me faz erguido
Por que falar se quase
não sou ouvido?
Porque volto a crer,
ainda que pareça demorado, nem tudo está perdido
Por que falar se quase
não sou ouvido?
Porque foi para isso
que fui chamado, e preciso sempre estar animado
Confesso ser difícil, às
vezes quase impossível, mas no fim coroado
Ainda que quase não
ouçam, pouco enxerguem, nada percebam.
Miquéias de Castro
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