É CEDO OU TARDE DEMAIS?
"Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." Eclesiastes 3.1
Acordou
naquela manhã e olhou no relógio. Os ponteiros começavam a marcar as primeiras
horas do dia. Ainda com aquela preguiça matinal, puxou o cobertor sobre si e
ficou ali encolhido sem saber o que haveria de fazer. Mas ainda era cedo demais,
não sabia muito bem o que fazer e nem como fazer alguma coisa. De repente o Grande
Relógio da copa, daqueles antigos de pêndulo, badala num alarido forte que lhe
causa calafrios. Era alto o ressoar do seu gongo anunciando 06h da manhã. Ainda
deitado, com um pouco de medo e muita ansiedade esperou ser chamado. Com os
olhos abertos o tempo parecia ter parado, ou quem sabe estivesse extremamente
lento e entre um badalar e outro, do Grande Relógio, se ouviu soar oito vezes o
gongo marcando 08h da manhã. Ainda era cedo demais.
Mesmo
sendo cedo, se levantou, foi até a cozinha à procura de algo para comer. Esticou
a mão e sem conseguir alcançar levantou o pé para pegar um pacote de bolacha
que estava pelo meio de cima da mesa. Frouxou a ponta do pacote que estava
torcida, pegou uma bolacha e comeu ali mesmo em pé, pegou mais duas, torceu a
ponta do pacote novamente e foi até a sala para comer e ver televisão, pois
ainda era muito cedo.
Ainda
sonolento, o pouco de atenção que ainda restava foi arrebatada pela programação
daquele canal, mais logo adormeceu mergulhado nas muitas almofadas do sofá. De repente
é acordado com forte barulho do Grande Relógio e ao contar os badalos somavam
14h. Não mais tinha medo daqueles gongos, naquele momento ele nem parecia tão
alto mais, não lhe causava mais calafrios. O sol já entrava pelas janelas de
vidro e penetrava o fino tecido das cortinas e seus raios terminavam bem em
cima dele. Com muito calor se levanta e para aliviar aquela sensação térmica vai
até o armário, passando pelo Grande Relógio, que já nem era tão Grande mais, e
sem se importar com ele pega um copo enche de água, vai até a geladeira tipo
duplex e abre o frízer para lançar mão de alguns cubos de gelo. Apesar do
Grande Relógio marcar 14h, não tinha nada importante para fazer, preferiu se
preocupar mais tarde, quem sabe à noite. O dia estava apenas começando para
ele.
Pegou
sua bicicleta foi até a “prainha”, uma curva do riacho que mantinha uma margem
de areia, à 3km de sua casa e ali gastou todo o resto da tarde. Mesmo longe e
sem ouvir os gongos do Grande Relógio, as horas continuavam a passar, mas não
estava lenta como antes, o dia foi acabando rapidamente. Saiu do riacho pegou a
bicicleta e correndo voltou para casa. Ofegante toma um banho e sai para uma
festa de um amigo e não percebe que o Grande Relógio não parou e que já não era
mais cedo, estava ficando tarde. Fim de festa, começou a ficar cansado como até
então não tinha sentido. Suas pernas começaram a perder a firmeza, seus olhos
se tornaram sensíveis à luz e a fala tornou baixinha. Saiu da festa, pegou o
carro e completamente sem forças e exausto voltou para a casa. Antes de abrir a
porta ouviu soar forte e aterrorizantemente, como nunca ouvira antes o Grande
Relógio soar 00h. Entrou portas a dentro se apoiando na parede pois o dia lhe
pesava nas costas como o peso de 100 anos. Caiu de joelhos frente aquele Grande
Relógio e viu que o tempo passou e era tarde demais para fazer o que era
importante, ainda que soubesse o que tinha que fazer e com fazê-lo. Agora não
dava mais tempo o tempo passou, a vida acabou e descobriu no fim da vida que
nunca foi cedo e sim tarde demais.
Miquéias de Castro
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