PIPAS
"Assim diz o Senhor que fez a
terra, o Senhor que a formou e a firmou; seu nome é Senhor: ‘Clame a mim e eu
responderei e lhe direi coisas grandiosas e insondáveis que você não sabe’”. Jeremias 33.2,3
Tinha mais ou menos meus nove para dez anos quando
arrisquei fazer minha primeira pipa. Morava numa cidade pacata, muito pequena.
Nunca fui menino de correr desenfreadamente e sem rumo pela rua. Nunca me
lembro de mamãe me permitir ficar o dia todo ou parte dele brincando na rua,
ainda que a maldade e as drogas pareciam não serem tão fáceis e explicitas. Mas
como todo menino, gostava de uma pipa, ainda que essa brincadeira era restrita
a finais de semana e na roça, nunca em meio a cidade. Tempos bons!
Via meus irmãos mais velhos fazendo as pipas. Um
deles até vendia pois outros meninos iam compra-las sempre. Arrisquei me
encorajando a fazer a minha. Peguei uma faca, um pedaço de bambu, cola, papel
de seda e linha. Parecia ser muito fácil. Lasquei o bambu e dele retirei três
varetas. Posicionei-as da forma que julgara ser correta e comecei a amarra-las
do mesmo jeito que via meus irmãos fazerem. Depois da armação pronta, colei o
papel, fiz a rabiola e guardei para poder estreá-la no próximo sábado no sítio.
A ansiedade me consumia, a espera era cada vez mais demorada e angustiante.
Pendurei ela na parede acima da minha cama e a aparente eternidade me fazia
crer que jamais chegaria o tão esperado fim de semana, também pudera era minha
criação, feita por mim.
Naquele sábado levantei correndo e quando os demais
acordaram eu já estava pronto para sair e com a pipa na mão. Não quis tomar
café, peguei um pedaço de pão obrigado por mamãe, mas nem sentei, saí correndo
e comendo. O importante era estrear a pipa, vê-la voar o mais alto possível.
O vento não estava tão forte. Uma leve brisa soprava
aquela manhã no campo, mas qual o problema? Já havia soltado a pipa que meu
irmão fizera com um vento ainda mais brando do que aquele.
Comecei a correr eufórico, entusiasmado forçando a
pipa levantar voo. Nada! Pensei estar contra o vento e mudei de direção e... Nada!
Corri, puxei, soltei e enrolei incontáveis vezes a linha e nada da pipa se
manter no alto. Levantava quem sabe cinco ou sete metros do chão enquanto
corria. Parando de corre ela perdia altura e caía. Depois de muito tentar, e que levou quase o dia todo, estava exausto e frustrado. Levei ela até meu irmão para
ver o que havia dado de errado. Ao examiná-la ele me disse: ela jamais vai
voar. Sua pipa está condenada a não sair do chão. Rapidamente perguntei o
porquê, ao que me respondeu: as vareta estão muito grossas, a amarradura está
frouxa e tem pouca rabiola. Sentei triste e perguntei: o que eu faço? Ele me
respondeu: nada! Joga fora! Uma pipa que não foi bem construída desde o início, não foi dada a devida atenção aos pormenores, Será uma pipa fadada a não
sair do chão. E se ela levantar, logo cairá. depois de me dizer isso, sentou-se no chão e me ensinou o que nunca mais esqueci: Como fazer uma pipa, algo que eu desconhecia, ou achava que sabia.
Foi mais ou menos isso que Deus quis dizer ao
profeta Jeremias no capítulo 33.3 do seu livro. O profeta precisava clamar,
pedir e suplicar a Deus e Deus ensinaria coisas grandes e maravilhosas que ele
ainda não sabia. Coisas essas que faria uma grande diferença em sua vida.
Eu não sabia fazer uma pipa, precisei aprender! Nós
não sabemos construir nossos lares, nossas famílias, não sabemos manter nosso
casamento, não sabemos criar nossos filhos, não sabemos ao certo que profissão
devemos seguir e se quer sabemos como será os próximos cinco minutos da nossa
vida. Só Deus pode nos ensinar a não só fazer nossa “pipa”, mas também a
soltá-la, como também somente Deus pode proporcionar o vento para mantê-la em
pleno voo.
Miquéias de Castro
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