VAI VALER A PENA!
Era uma manhã de inverno, estava muito frio lá fora. Intimidador e pouco
acolhedor estava aquele dia, mas lá foi ele vaguear em busca da matéria prima
para sua obra. Era habilidoso artista, um grande escultor.
Procurando entre galhos e troncos esperava encontrar aquilo que se
transformaria em sua obra mais perfeita, a mais admirável.
De repente, olha e vê um pedaço de madeira jogado a beira da estrada. Aos
olhos de qualquer um não passava de um
objeto sem valor e que provavelmente muitos já haviam passado por ali e desprezado,
mas a seus olhos uma obra de arte.
Pegou aquele tronco, amarrou uma corda em volta dele e com muita
dificuldade começou a puxar. Estava longe da sua casa, a quilômetros do seu porão,
mas isso não o desanimou. Dentro de seu coração só pairava uma certeza: “Vai
valer a pena!”
Cansado e exausto, faltando poucos passos, reúne toda sua força para
conseguir. Coloca para dentro de seu ateliê e sem demora, sem parar para
descansar se entrega à sua obra. Dias e noites incansáveis raspou, bateu,
lascou e começou a dar forma. Não ia ser fácil.
Para ser sua melhor obra ele saiu em busca de algo que pudesse durar por
muito tempo, algo que pudesse ser admirado por muitos e para isso precisava ser
uma madeira dura, resistente, que dependeria sim de grande esforço, de muita
dedicação de muito empenho. Sabia que o preço que pagaria para terminar aquela
obra seria alto demais, mas estava disposto.
Seu melhor tempo era dedicado para aquela obra, suas ferramentas mais
novas e precisas ele não teve dó de usar, seu carinho e amor foram empregados
sem restrição aquele trabalho. Levaria o tempo que fosse preciso, consumiria o
máximo de suas forças e vigor, mas nada disso o desanimaria. Pelo fato da
madeira ser muito dura, formões e não poucos quebraram, outras tantas goivas perderam
seus cortes, limas e grosas perderam suas utilidades tamanha era a resistência
daquela madeira. Seus braços cansados de tanto martelar levantando e descendo o
maço lentamente começou a ver à sua frente aquilo que somente seu coração
enxergava.
Sua dedicação foi tão intensa que não percebeu que o tempo passou, que
estações transeuntes desfilavam ininterruptamente uma após outra sem tirá-lo do
foco. Quando percebeu, estava velho, exausto. Empregara ali tudo que tinha de
melhor: o tempo, a vida, o amor, os sonhos... Conseguiu, valeu a pena! Sua obra
era perfeita, seus esforços foram recompensados. Aquele artista era um pai e
sua obra seu filho que fora admirado homem, obra de um grande artista.
Miquéias de Castro
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