VELHO BANCO
“Lembre-se do seu Criador
nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e antes que se
aproximem os anos em que você dirá: Não tenho neles prazer”. Eclesiastes 12.1
Os
dias se passaram rapidamente... voaram-se os anos... e o que era para ser futuro
se tornou inesperadamente presente, acabando-se em mero passado!
Estava
em pé em meio à praça. Olhou à sua frente e avistou um amigo, amigo confidente,
amigo fiel, um velho amigo: o velho banco. Tanta gente passou por ali, tantos
assentaram naquele velho banco que perdera seu tom esverdeado vivo, dando lugar
a um acinzentado sombrio e frio. Marcas de um tempo que passou.
Chegou
vagarosamente, assentou naquele banco, sobre o qual não só se contaram como
também viveram histórias, muitas delas tristes, outras tantas felizes, muitas
engraçadas e outras desgraçadas...
Assentado
poia seus cotovelos fracos sobre os joelhos a sustentar a grisalha cabeça. Foi
criança e com muita dificuldade assentou sobre aquele banco com as mãos entre
as pernas, como se escondesse algo, balançava para frente r para trás seus pés,
foi jovem e inúmeras vezes foi sobre ele que contou estrelas e apreciou o
brilho da lua noites a fio junto a seus amores juvenis, mas agora estava lá
sobre o mesmo e velho banco, cansado, velho e até certo ponto, quem sabe,
combalido e afadigado de viver.
O tempo
passou e junto dele passaram também o vigor, a saúde, a energia, a robustez, os
sonhos, a vitalidade, o entusiasmo, a força...
Baixou
uma das mãos, deslizou suavemente sobre a madeira daquele velho amigo e como se
conversasse com ele, parecia ouvi-lo dizer e contar segredos secretos e
confidenciais, coisas ocultas e reservadas que ninguém sabia senão somente ele
e Deus. Levantou suave e lentamente os olhos a ver outras tantas crianças e
jovens que como ele não percebiam o tempo passar e que um dia estariam
assentados naquele banco também chorariam.
Certa
tarde, ele não veio até a praça, ele não assentou no banco, ele se quer apareceu...
As portas eternas se abriram para ele, e não mais existiu, ficando só o banco,
o velho banco a espera de outro que ele viu crescer e que veria também morrer,
aqueles que não descobriram o mistério da vida e não souberam viver.
Miquéias de Castro
0 comentários: