Fragilidade
“Faze-me
conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a medida dos meus dias, para que eu saiba
quão frágil sou”. Salmo 39.4
Aquela foi uma madrugada difícil. Não sabia o que
podia ser feito. Faltava calma, experiência e sabedoria. Não que já tenha
alcançado mas, naquele dilúculo
tudo era muito diferente, tudo novo, parecia ser muito complicado, uma
responsabilidade descomedida, descomunal.
Tudo aconteceu na manhã anterior. Uma longa espera tinha chegado ao fim. Digo
longa, uma vez que a maioria dos meros mortais espera por nove meses, mas ele
precisou esperar longos dezessete anos, mas naquela manhã, depois de ouvir um
cicio, um sussurro, ele percebeu que era verdade, que aquele choro baixinho sinalizava
uma vida que acabara de nascer, um projeto de homem a ser planejado, um caráter
a ser moldado, uma vida, sim uma vida que lhe é colocada nos braços e lhe
disseram: É um lindo menino, seu filho!
Mas naquela primeira madrugada, antes de encanecer o dia, ele ainda não
havia pregado o olho olhando para aquele menino tão lindo, tão perfeito, tão
pequenino, tão frágil. Sua fragilidade se estendia a tal ponto de não saber
falar, pedir, se auto sustentar, cuidar das necessidades mais básicas. Não
podia decidir por si mesmo e ainda que pudesse não tinha sabedoria para tal.
Como era frágil.
Olhando para aquele berço, começo a pensar nos benefícios daquele que é
frágil, dependente, necessitado de ajuda. Somente os frágeis são socorridos,
amparados e tem o prazer de ser cuidado. Nada melhor do que ter quem cuide de
nós, sare nossas feridas, afague nosso choro. Só que crescemos e perdemos isso
que é um dom dos pequeninos, o dom de se deixar ser cuidado.
O grande poeta e rei Davi, no Salmo 39.4, faz um pedido a Deus: Faze-me
conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a medida dos meus dias, para que eu saiba
quão frágil sou”. A
suplica do rei era para que Deus nunca permitisse que ele viesse a se esquecer
o quanto ele era frágil e necessitado dos cuidados de seu Pai. O apostolo Pedro
em sua primeira carta escreve: “lançando
sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pe 4.7).
Foi naquela alvorada que ele entendeu o quanto precisava de Deus uma vez
que aos olhos do Pai ele, apesar da idade, ainda é e sempre será um bebê
frágil e totalmente dependente.
Miquéias Castro
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