1 de fev. de 2014

ENCONTRO



 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3.16

Aproxima-se da sala e uma meia luz entrando pela fresta da janela, advinda do poste, dava um tom calmo no ambiente fazendo com que o piano de calda se mantivesse parcialmente iluminado e outra parte dele se reservava na penumbra que ocultava a outra parte do mesmo assim como de tudo mais que estava ali.

Dá poucos passos aproximando do piano. O toca levemente com as pontas dos dedos deslizando-os enquanto vagarosamente contornava aquele grande instrumento. Terminada a caminhada ao seu redor, assenta-se e as primeiras notas começam a sair tímidas e curtas como se estivessem acanhadas, receosas, produzidas por uma das mão. De repente a mão direita se junta à outra tornando a melodia mais harmoniosa ocupando cada centímetro cúbico da sala preenchendo todo o ambiente.

Não se ouvia voz ou qualquer outro sonido a não ser notas melódicas geradas pela pressão imposta sobre as teclas, mas a cada acorde podia-se ouvir sua alma orar em gritos. E compôs uma melodia sem palavras, mas repleto de sentimentos. Não havia ouvido aquela composição nem mesmo dos mais ilustres pianistas de todos os tempos, sabe o por quê? Porque ele compunha através daquelas notas um hino sincero e genuíno sobre Deus. E como se não esperasse, as lágrimas começam a correr uma após outra no seu rosto tocando o chão, pois quanto mais ele descobria sobre Deus, mais se deparava feito quem se encontra frente um espelho. E sua convicção mais se fortalecia do não merecimento de toda as bênçãos e de todo o cuidado de Deus para com ele. Um constrangimento o preencheu, assim como as notas fizeram à aquela sala.

Constrangido, pois, estava acostumado a ser alguém, a ser reconhecido pelo que era, pelo que tinha. Mas, ali ele estava diante de quem desnudava sua alma, de quem conhecia sua vida, de quem não se podia fingir ou usar qualquer disfarce. Restou-lhe derramar seu espírito. De repente, ele não mais tocava melodias harmônicas, mas debruçado sobre as teclas produzia um forte e interminável som contínuo, como se, não só ele se derramasse em choro como também aquele piano. Isso não simplesmente ao se deparar com sua miséria, sua insignificância, mas pela certeza que Deus colocava em seu coração de um amor incondicional, absoluto. Descobre que para com Deus ele não precisava tentar esconder quem ele era, o que estava acostumado a fazer com todos à sua volta, pois Deus bem sabia, mas isso não causava-lhe medo ou pavor pois, junto a todo o saber e onisciência de Deus, ele não o desprezava e nem o rejeitava, pelo contrário, sentia-se amado cada vez mais.


Levantando daquele banco, enxuga o rosto e abre um largo sorriso, pois o verdadeiro amor não acusa, não aprisiona, não difama, não destrói, não causa medo, mas tudo suporta. O verdadeiro amor demonstrado por Deus através de Cristo nada nos cobra nem nos obriga, mas nos torna mais leves, confortados, e seguros de que podemos ser amados se requerer nada em troca. Esse é o amor de Deus por mim e por você. Um amor que não toma, não requer, não exige, mas um amor que se doa, se entrega e se sacrifica pelo outro. Isso é maravilhoso!


Miquéias de Castro


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