Pequenas mais mortais
Aquela caminhada na trilha lhes renderam vários
arranhões no corpo, cortes profundos nos pés e respiração ofegante.
Ele gostava muito de se aventurar em meio a
natureza. Calça camuflada, coturno até a canela, uma casaco mais grosso sobre a
camiseta, um cajado nas mãos, chapéu na cabeça e muita disposição de antar
longos trechos, que as vezes chegavam a dezenas de quilômetros. Todas as suas
férias separava uma semana para curtir de uma forma mais “hard” a natureza com
dois de seus amigos.
Esperou tanto pelo mês de setembro, mês de suas
férias, e quando chegou juntou todas as suas tralhas, passou a mão no cantil e
foi para o ponto de partida, anteriormente combinado, pois, como de costume,
iriam sair os três juntos. Quando ele desceu do metrô se arranjaram ali mesmo
no chão da estação e começaram a discutir pequenas coordenadas, traçaram planos
e em pouco tempo estavam prontos a subir montanha acima.
Parecia que tinham planejado tudo, parecia que nada
estava faltando. Nenhum sentimento negativo tomou conta deles ou até mesmo pois
tinham bússola, barracas, facas, radiocomunicador, sinalizadores. Tudo isso sem
falar na vasta experiência caça e pesca que ambos dominavam muito bem. Estavam
preparados para tudo. Já haviam enfrentado juntos todo clima (de frio intenso e
calor escaldante), tempestade (de água, de vento e de areia). Nenhuma fera os
assustavam facilmente. Nada parecia intimidá-los.
Depois de três dias no meio da mata densa e úmida, estavam
orgulhosos pois achavam que mais uma mata virgem e desconhecida estava para ser
vencida. Sem perceber um deles esbarra numa casa de abelhas que estava em seu
caminho. De repente um sonido forte das asas das abelhas prontas a ferroar os
alarmou. Começaram uma correria alucinante, pois se tratava de “abelhas
africanas”. Para correrem mais começaram a soltar todo o peso que estava
carregando. O pavor era tamanho que não sentiam grandes espinhos rasgarem suas
roupas e suas carnes, tropeções e tombos fazia-os rolar no chão. Sabiam que as
abelhas africanas podiam perseguir suas presas até 900 metros distante da colméia. Não podiam mais voltar, pois na
correria perderam a bússola, suas barracas ficaram em algum lugar em meio a
mata. Nada havia sobrado a não ser escoriações e feridas. Sorte deles foi o
fato de estarem no último quilômetro daquela floresta. Estavam prontos a
enfrentar feras e tempestades, mas não estavam prontos a enfrentar os pequenos insetos.
Nem sempre o que nos derruba são as coisas grandes, os problemas imensos, mas
sim as pequenas coisas, as que subestimamos, as que não vemos.
Miquéias de Castro
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