19 de jan. de 2014

PETRIFICADOS

 
“E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.” Ezequiel 36.26

Era uma cidade diferente das outras. Todos os habitantes dela tinha algo em comum que os destacava dos demais: Possuíam coração de pedra. Mas isso não os atrapalhavam em nada. Eram responsáveis, tinham família, trabalhavam, estudavam, comiam, dormiam, brincavam e até sorriam. Mas, a característica mais marcante era a indiferença. Mas isso não era “ruim”... Até tinham uma vantagem sobre todas as outras comunidades e cidades a sua volta: não tinham sentimentos! E para que tê-lo? Se orgulhavam dos seus corações de pedra, cada qual mais endurecido do que outro. Mas, isso não era uma anomalia no nascimento, não era uma doença física e contagiosa ou algo parecido. Eles aprenderam a petrificar seus corações e ensinavam seus filhos e quando isso acontecia era dado uma festa, pois seus filhos tinham chegado a maturidade, a capacidade de não se envolverem com sentimentos alheios.

Não se importavam se alguém estava necessitado de alguma coisa, não ligavam para os famintos, não visitavam os enfermos. Enganar uns e tirar proveito dos demais era uma característica forte e em tudo nada sentiam, nem arrependimento e nem remorso, nem tristeza e nem dor, seus corações eram de pedra.

Saíam cedo de casa para trabalhar, não beijava a esposa e nem filhos, ficava o tempo que posse preciso, alguns demoravam semanas para voltar e a saudade não lhes afetava. Saudades é para os fracos de corações, para os de coração de carne. Não se via há muito a frase: Eu te amo! Tão pouco a: Me desculpe. Extinta estava aquela: Eu estava errado... mas para que tudo isso. Descobriram que podiam viver bem sem tudo isso, descobriram que quanto menos amor menos dor, quanto menos relacionamento íntimo menos decepções, quanto menos se entregar menos choro. E o que era esse tal de “choro”? Há muitas gerações isso tinha acabado de tal forma que os mais novos estranhavam até mesmo a palavra.

Só não perceberam que seus corações petrificados os tornaram gelados, frios, sem a dor que os machucavam, mas também sem a dor que os protegiam. Não tinham mais a sensibilidades do belo, a felicidade do prazer e a companhia de Deus.

Talvez isso não seja uma ficção, mas uma realidade... pode ser que essa cidade seja o meu mundo ou o seu... quem sabe o nosso.
 
Miquéias de Castro
 
 

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