6 de out. de 2013

CALMARIA




"E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia. E ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada, e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá que pereçamos?" Marcos 4.37-39


 Aquele parecia um dia como tanto os outros. Estavam cansados, quem sabe famintos, pois, não haviam parado um só minuto sem tempo até para comer direito devido a grande multidão que continuamente se acotovelavam para disputar um lugar bem próximo do mestre. Cristo com seus discursos maravilhosos, com seus milagres infindáveis e poder transformador cooperava para que o dia não fosse longo e chato, mas era sobremodo cansativo. 

Desde sempre cuidar das pessoas se torna uma tarefa árdua e pesada, uma tarefa que levara até mesmo o Mestre, no aconchego de um travesseiro e no balanço compassado das ondas, se entregar ao sono. Ele olhou para frente e percebeu que a penumbra não era a de todas as tardes. 

Que aquele dia o firmamento estava escurecendo mais rápido e ventos fortes começaram a soprar. As ondas levantavam o barquinho e o arremessava para baixo a ponto de enchê-lo todo de água. Olho para Cristo ali, pela exaustão e cansaço, dormindo. Olhou para seus amigos em grande desespero e temendo a iminente morte tirar a água da embarcação começou a se perguntar se valeria a pena tudo aquilo? Compensaria todo o trabalho, a canseira, as privações sofridas para cuidar das pessoas? Não havia reconhecimento, não existia cumplicidade e muito menos amor por parte do povo. 

Se eles sobrevivessem toda aquela tempestade, no dia seguinte bem cedo uma grande multidão estaria à porta deles esperando um milagre, uma palavra de conforto, um pedaço de pão sem se importar nenhum pouco com o que ocorrera a eles e se morressem ali amanham seriam esquecidos e trocados por outra distração que apareceria para atrair a atenção de todo o povo. 

Em meio a esta tempestade interior, ouve-se um grito: Mestre, não se te dá que pereçamos? Com isso Cristo se levanta, repreende a fúria do vento e acalma a impetuosidade das águas. Todos, espantados com o que sucedera e com tamanha manifestação de poder e autoridade do Mestre, se mostram aliviados e seguros. 

Seu coração também se aquieta e ele lembra que vale sim a pena toda a canseira, todo o trabalho, o não reconhecimento, as angustia, pois sempre que a tempestade chegar o Mestre estará lá para salvá-los.

Miquéias de Castro 

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