CALMARIA
"E levantou-se
grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que
já se enchia. E ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada, e
despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá que pereçamos?" Marcos 4.37-39
Aquele
parecia um dia como tanto os outros. Estavam cansados, quem sabe famintos, pois,
não haviam parado um só minuto sem tempo até para comer direito devido a grande
multidão que continuamente se acotovelavam para disputar um lugar bem próximo do
mestre. Cristo com seus discursos maravilhosos, com seus milagres infindáveis e
poder transformador cooperava para que o dia não fosse longo e chato, mas era
sobremodo cansativo.
Desde sempre cuidar das pessoas se torna uma tarefa árdua e
pesada, uma tarefa que levara até mesmo o Mestre, no aconchego de um
travesseiro e no balanço compassado das ondas, se entregar ao sono. Ele olhou
para frente e percebeu que a penumbra não era a de todas as tardes.
Que aquele
dia o firmamento estava escurecendo mais rápido e ventos fortes começaram a soprar.
As ondas levantavam o barquinho e o arremessava para baixo a ponto de enchê-lo
todo de água. Olho para Cristo ali, pela exaustão e cansaço, dormindo. Olhou para
seus amigos em grande desespero e temendo a iminente morte tirar a água da embarcação
começou a se perguntar se valeria a pena tudo aquilo? Compensaria todo o
trabalho, a canseira, as privações sofridas para cuidar das pessoas? Não havia
reconhecimento, não existia cumplicidade e muito menos amor por parte do povo.
Se
eles sobrevivessem toda aquela tempestade, no dia seguinte bem cedo uma grande
multidão estaria à porta deles esperando um milagre, uma palavra de conforto,
um pedaço de pão sem se importar nenhum pouco com o que ocorrera a eles e se
morressem ali amanham seriam esquecidos e trocados por outra distração que
apareceria para atrair a atenção de todo o povo.
Em meio a esta tempestade
interior, ouve-se um grito: Mestre, não
se te dá que pereçamos? Com isso Cristo se levanta, repreende a fúria do
vento e acalma a impetuosidade das águas. Todos, espantados com o que sucedera
e com tamanha manifestação de poder e autoridade do Mestre, se mostram
aliviados e seguros.
Seu coração também se aquieta e ele lembra que vale sim a
pena toda a canseira, todo o trabalho, o não reconhecimento, as angustia, pois
sempre que a tempestade chegar o Mestre estará lá para salvá-los.
Miquéias de Castro
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