CONSOLO
Não temas, porque eu sou contigo;
não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te
sustento com a destra da minha justiça. Porque eu, o Senhor teu Deus, te seguro
pela tua mão direita, e te digo: Não temas; eu te ajudarei. Isaías 41.10,13
Já havia passado alguns dias depois dos últimos acontecimentos. Acontecimentos
esses que tentavam conturbar e inquietavam sua alma.
Certo dia, quando se levantou, foi
como se o mundo estivesse acabado para ele. Ainda sonolento na manhã de sábado,
acordado pelo bipo da cafeteira, pré-programada na noite anterior, anunciando
que o café estava pronto. Levantou ainda sonolento, chinelos trocados nos pés
dificultando o andar, vai até a porta da sala e pega seu jornal e outras
correspondências e caminha para a cozinha. Como de costume, pega uma caneca
coloca aquele café bem forte, leva até o nariz para sentir o cheiro do café fresquinho pela manhã e se assenta. Antes de levar a xícara de café à boca tomar
o primeiro gole de café, abre o resultado do exame que esperava ansioso, corres
os olhos para o fim da página e encontra o relatório médico: BI-RADS®V(5), significando que foi achado algo muito
suspeito com as chances de 95% ser câncer, fazendo-se necessário uma biópsia.
Nem bem recuperado do susto, o telefone toca. Seu coração começa a palpitar e acelerar a
cada passo que era dado até chegar a escrivaninha que ficava no corredor que
dava acesso aos dormitórios de sua casa. Parecia que já pressentia, que já
previa outro choque que, dentro de poucos instantes, teria.
Chegou frente ao
telefone e demorou mais alguns toques, como se estivesse tomando coragem. Mas o
tilintar do telefone não cessava. Pegou o telefone e antes que falasse “alô!”,
ouviu um choro do outro lado da linha. Não tinha coragem de perguntar nada, de
indagar o que estava acontecendo, nem mesmo quem estava na outra ponta da
linha. Por alguns segundos, que mais
pareciam eternos. Aquele choro baixinho e lírico pranto foi interrompido por uma voz
familiar que disse: “Mamãe morreu!”
Lágimas começam a brotar de seus
olhos, deixa escapar o telefone das mãos e em plena mudez sombria abaixa-se ao
chão, apertando-se entre a escrivaninha e a parede. Sem nenhuma força, não
conseguia esboçar nenhuma reação, só sua alma gritava em silêncio, clamava a Deus
que fizesse alguma coisa. Repentinamente, um suave vento sacode a cortina
entrando corredor a dentro e o toca na face. O tempo parecia haver parado. Ela não
sabia o que era aquilo, mas um sentimento de calmaria e conforto pareceram ser
trazidos por aquela brisa matinal. Era como se o próprio Deus estivesse ao seu
lado. Recobrado a força, se levantou e uma forte sentimento de que Deus faria
algo o impulsiona a pegar o carro e ir até o hospital. Sua alma parecia gozar de
paz e descanso, pois acreditava que Deus ressuscitaria sua mãe, que o Deus da
vida seria misericordioso.
Dentro da hora marcada sua mãe foi
sepultada. Mas não, ele estava mais perdido no desespero, encontrou força, não
humana, mas divina e com palavras e ações confortava os demais. Na manhã
daquele sábado, Deus esteve com ele assentado no canto do corredor, não para
trazer a sua mãe à vida, mas para fortalecê-lo. Na quela altura, não mais temia
ou ao menos questionava. Ainda que a lembrança da nova luta que, dentro de
poucos dias, teria que travar contra sua enfermidade tentasse perturbá-lo, não
mais o preocupava, pois Deus fez sim alguma coisa. Entendeu que Deus sempre faz
alguma coisa pelos seus filhos. Ainda que não fosse a sua vontade, de ressuscitar sua mãe, mas o impossível aconteceu: a possibilidade de ser
consolado. Pior do que a perda, é não encontrar conforto. O que nada e nem
ninguém, nenhuma palavra, nenhum gesto, nem todo o dinheiro do mundo poderia dar-lhe,
Deus lhe deu: Alegria, onde não havia mais possibilidade de esperança. Deus nem
sempre nos dá o que pedimos, mas infalivelmente o que precisamos.
Miquéias de Castro
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