24 de fev. de 2013

IGREJAS, onde Deus não é bem vindo!



Era conhecido pelo tamanho do seu coração? Não, não falo órgão muscular, mas sim a grandeza de seu amor pelos outros. Toda sua vida foi devotada às pessoas. Aos doentes ele tratava as feridas, aos famintos dava de comer, aos desabrigados, chamava para morarem em sua casa. Todos o admiravam pela tamanha amabilidade, dedicação com que tratava a todos.

Sua casa, depois de certo tempo, começou a ficar lotada de pessoas, não poucas, que diariamente iam se achegando. Todos os dormitórios estavam repletos, assim como as duas salas, a copa, os banheiros e a cozinha. Eram tantas pessoas atraídas pela sua bondade que dificultava transitar pelos corredores.

Mas algo estava diferente naquela casa. Aquele homem bom não era mais procurado por ninguém para as longas conversas que gosta de ter assentados no sofá da sala ou na mesa da cozinha. Belíssimas histórias eram comuns todas as noites à mesa do jantar. A casa estava tão cheia de pessoas que se acotovelavam com  medo de ficarem sem comer e sem beber.

 Na hora do banho era aquela confusão, cada qual querendo ficar mais tempo no chuveiro sem se preocupar com o outro. Na hora de dormir eram tatos que o dono da casa foi deixado para dormir do lado de fora. Aquele carinho que todos sentiam por ele já não existia mais, agora todos estavam mais interessados somente no que o bom homem tia a oferecer e não mais em sua companhia. Só lembravam-se dele quando a água quente do chuveiro acabava, quando a geladeira estava vazia, quando pão não chegava na hora.

Aquele homem entristecido saiu de casa abandonando aquela multidão ingrata e egoísta. Depois de pouco tempo a casa ficou fria, sombria. Não tinha mais cumplicidade entre todos, o amor havia se esfriado, era cada um por si. Passaram a serem pessoas desconhecidas umas das outros, moravam debaixo do mesmo teto, mas não como uma família. Aquela casa não era mais a mesma, pois faltava quem os unia, quem os ensinava. Faltava o dono da casa, o bom hospitaleiro. Não adiantava estarem juntos se não estavam unidos. O dono daquela casa, o bom homem, se sentindo desprezado, foi para bem longe construir outra casa e alcançar outras pessoas que não estivessem interessadas somente no que ele tinha a oferecer ou no que ele podia fazer por elas, mas que amassem suas histórias, seus ensinamentos, pessoas que dessem valor a sua presença.



Miquéias Castro




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