28 de jul. de 2012

Um por todos e todos por uma!


Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará? E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa. Eclesiastes 4:9-12

Lembro-me ainda como se fosse hoje. Éramos, meus irmãos e eu, crianças levadas, ruins nãos, maldosas não, simplesmente levadas. Éramos, como chamo hoje, crianças com um alto teor de criatividade e com doses sobrando de imaginação.

Aquela era uma tarde ensolarada. Meus pais haviam saído para um compromisso e deixaram-nos com a empregada. Não lembro muito bem dela. Só consigo, dentro de uma vaga memória, resgatar a diminuta lembrança de que seus cabelos eram pretos e lisos, pele clara e estatura alta. Só não sei se alta comparada minha estatura pela pouca idade ou se era ela alta mesmo. Deveríamos ter: meu irmão mais velho oito, minha irmã sete, eu seis anos e o caçulinha cinco. Sim uma bela escadinha. Não consigo me lembra do seu rosto, nem mesmo do seu nome, mas uma coisa eu lembro, foi o terceiro e ultimo dia dela trabalhando na minha casa.

Naquele dia estávamos no quarto assistindo desenho numa televisão Philco laranja, daquelas tinham em cima um grande botão redondo para trocar os canais e o mesmo era usado para sintonizá-los, é, era essa; foi quando, vou chamar de Maria, por não lembrar o nome, entra no quarto e chama minha irmã. Depois de algum tempo minha irmã não havia retornado, saio do quarto e vi minha irmã ajudando Maria com a limpeza da casa. Ela era pequenina e a cena que vi foi minha irmã tentando empurrar um sofá de dois lugares, que para ela parecia mais um boeing. Chamei-a para continuar assistindo desenho, mas a Maria não deixou, pois disse que ela iria ajudar com a faxina e se eu continuasse ali eu também ajudaria.

Entrei correndo no quarto e mais que depressa compartilhei com meus irmãos. Pronto, declaramos guerra contra Maria. Assistir desenho não era mais divertido do que estávamos prestes a fazer. Meu irmão mais velho e eu começamos a bolar um plano. Ele pegou três pedaços de papelão quadrados e fez com eles três escudos para nossa proteção. Enquanto fazia os escudos deu ordem para que eu apanhasse três rolos de papel higiênico e para o mais novo prepara três vasilhas com água.

Tudo pronto, empunhamos os escudos, debaixo do outro braço um rolo de munição e na mão tínhamos recipiente com água. Escondemos em pontos estratégicos do quintal e começamos a chamar a Maria. Quando ela saiu, desenrolávamos rapidamente o papel, embebia na água e lançava contra ela. Estávamos nos sentindo num campo de batalha. Acredito que Maria também, pois quando ela tentava se proteger das bolas de papel encharcado que vinham de uma direção era bombardeada em cheio de outras duas direções. Maria desesperada e toda suja de papel molhado sai correndo pelo portão. Nunca mais vimos Maria. Nos abraçamos a minha irmã e ainda lembro quando eu disse: “Um por todos e todos por uma!”  Naquele dia minha irmã soube que pedia contar conosco e que nunca estaria sozinha.

O Escritor de Eclesiastes tinha razão quando ele falou que é melhor serem dois do que um. Quando se tem com quem contar, em quem confiar, em quem se apoiar a vida se torna mais fácil, mais simples, mais prazerosa. O texto de Eclesiastes 4.9-12 nos ensina que não estar sozinho resulta em uma vida mais proveitosa (melhor paga), rápida recuperação (se cair tem que o levante) e cumplicidade (resistência ao inimigo).

Hoje já não mais defendemos um ao outro com papel embebido em água, mas aprendemos desde pequeno que melhor é ser dois, três, quatro, dez, vinte do que apenas um. Melhor é estar junto compartilhando proteção, conforto, cuidado, socorro do que estar só e fragilizado. Não deixe que pequenas coisas desse mundo como cor da pele, sexo, estatura, modo de pensar, faça de você uma pessoa solitária, pois quando precisar não haverá quem lute com e por você. Vamos caminhar juntos?  


Miquéias Castro

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