Um por todos e todos por uma!
Melhor é serem dois do que um, porque têm
melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu
companheiro; Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só,
como se aquentará? E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe
resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa. Eclesiastes 4:9-12
Lembro-me ainda como se
fosse hoje. Éramos, meus irmãos e eu, crianças levadas, ruins nãos, maldosas não,
simplesmente levadas. Éramos, como chamo hoje, crianças com um alto teor de
criatividade e com doses sobrando de imaginação.
Aquela era uma tarde
ensolarada. Meus pais haviam saído para um compromisso e deixaram-nos com a
empregada. Não lembro muito bem dela. Só consigo, dentro de uma vaga memória,
resgatar a diminuta lembrança de que seus cabelos eram pretos e lisos, pele
clara e estatura alta. Só não sei se alta comparada minha estatura pela pouca
idade ou se era ela alta mesmo. Deveríamos ter: meu irmão mais velho oito,
minha irmã sete, eu seis anos e o caçulinha cinco. Sim uma bela escadinha. Não
consigo me lembra do seu rosto, nem mesmo do seu nome, mas uma coisa eu lembro,
foi o terceiro e ultimo dia dela trabalhando na minha casa.
Naquele dia estávamos no
quarto assistindo desenho numa televisão Philco laranja, daquelas tinham em cima
um grande botão redondo para trocar os canais e o mesmo era usado para sintonizá-los,
é, era essa; foi quando, vou chamar de Maria, por não lembrar o nome, entra no quarto e chama minha irmã. Depois de algum tempo minha irmã não havia retornado, saio do quarto e vi minha irmã ajudando Maria com a limpeza da casa. Ela
era pequenina e a cena que vi foi minha irmã tentando empurrar um sofá de dois
lugares, que para ela parecia mais um boeing. Chamei-a para continuar
assistindo desenho, mas a Maria não deixou, pois disse que ela iria ajudar com
a faxina e se eu continuasse ali eu também ajudaria.
Entrei correndo no
quarto e mais que depressa compartilhei com meus irmãos. Pronto, declaramos
guerra contra Maria. Assistir desenho não era mais divertido do que estávamos prestes
a fazer. Meu irmão mais velho e eu começamos a bolar um plano. Ele pegou três pedaços
de papelão quadrados e fez com eles três escudos para nossa proteção. Enquanto fazia
os escudos deu ordem para que eu apanhasse três rolos de papel higiênico e para
o mais novo prepara três vasilhas com água.
Tudo pronto, empunhamos
os escudos, debaixo do outro braço um rolo de munição e na mão tínhamos recipiente
com água. Escondemos em pontos estratégicos do quintal e começamos a chamar a
Maria. Quando ela saiu, desenrolávamos rapidamente o papel, embebia na água e
lançava contra ela. Estávamos nos sentindo num campo de batalha. Acredito que
Maria também, pois quando ela tentava se proteger das bolas de papel encharcado
que vinham de uma direção era bombardeada em cheio de outras duas direções. Maria
desesperada e toda suja de papel molhado sai correndo pelo portão. Nunca mais
vimos Maria. Nos abraçamos a minha irmã e ainda lembro quando eu disse: “Um por
todos e todos por uma!” Naquele dia minha irmã soube que pedia contar conosco e que nunca estaria sozinha.
O Escritor de Eclesiastes
tinha razão quando ele falou que é melhor serem dois do que um. Quando se tem
com quem contar, em quem confiar, em quem se apoiar a vida se torna mais fácil,
mais simples, mais prazerosa. O texto de Eclesiastes 4.9-12 nos ensina que não
estar sozinho resulta em uma vida mais proveitosa (melhor paga), rápida
recuperação (se cair tem que o levante) e cumplicidade (resistência ao inimigo).
Hoje já não mais
defendemos um ao outro com papel embebido em água, mas aprendemos desde pequeno
que melhor é ser dois, três, quatro, dez, vinte do que apenas um. Melhor é
estar junto compartilhando proteção, conforto, cuidado, socorro do que estar só
e fragilizado. Não deixe que pequenas coisas desse mundo como cor da pele, sexo,
estatura, modo de pensar, faça de você uma pessoa solitária, pois quando
precisar não haverá quem lute com e por você. Vamos caminhar juntos?
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