Amor imerecido
“Ver os cravos nas mãos, seu corpo a sofrer naqueles momentos de dor. Ver
o mestre a chorar e foi por você que ele mostrou tanto amor. Ele tanto me amou.
Ele tudo por mim suportou, carregou minha cruz”. (Fragmento da música Getsêmani)
Ele tudo por mim suportou, carregou minha cruz”. (Fragmento da música Getsêmani)
Foi breve sua
vida, mas intensamente marcante. Multidões paravam para ouvir quando falava. Falava
de um jeito tão persuasivo... Tão convincente eram suas histórias, que todos
eram impactados por sua tremenda sabedoria. Foi afamado, foi querido... Não
sabia o que era estar sozinho, uma vez que todos se acotovelavam para estarem
cada vez mais perto dele.
Mas naquela sexta-feira
tudo estava diferente. Aqueles que falavam em alta voz: “Te amamos!”, agora bradavam em grandes gritos: “Crucifica-o!” Dos seus olhos lágrimas
começam a rolar tal rio desaguando no mar. As mãos, que antes receberam dele
uma bênção, um milagre, são as mesmas que agora o levam preso, que esbofeteia
seu rosto. Soldados foram chamados para conter aquele que só falava em paz.
Foi levado para um
lugar intimidador chamado Prensa de Oliva (grego Getsêmani) e ali ele foi
moído, pisado, maltratado pelos nossos pecados.
Aquele que tanto
amou, tanto se doou, sente agora os cravos atravessando suas mãos. Naquele momento
de terrível dor, de súbito, um sentimento invade seu coração. Mas esse
sentimento não era de ódio, nem tão pouco de ira. Era uma mistura de abandono,
de rejeição, concomitantemente ao sentimento de amor e compaixão.
Sua cabeça recebe
uma coroa, não de ouro, e muito menos de jóias, mas era de espinhos, os quais
rasgaram cruelmente suas frontes. Não bastasse tamanho sofrimento, foi erguido
numa cruz e uma fria lâmina de lança lhe penetra o lado direito do corpo. Por
que fazer-lhe sofrer tanto aquele que tanto amou, tanto se doou? Do alto do
madeiro, num olhar profundo penetra os corações e num sofrido brado clama a
Deus para que não os culpasse de tamanho ultraje. Como entender tamanho amor...
Já era tarde aquele dia, próximo
às 15h, suspira o ultimo fôlego de vida. Aquele que não tinha pecado, nele não
se achava erro carrega sobre si a nossa cruz, a nossa penalidade. Diz o profeta Isaías que o castigo que estava
sobre ele é o que nos traz hoje a paz e, pelo fato dele ter sido ferido, hoje
somos curados. Foi condenado a morte por nos amar na medida em que não podemos
entender e, muito menos, merecer.
Miquéias Castro
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