9 de jun. de 2012

Zé...



“Um ao outro ajudou e ao seu companheiro disse: Sê forte.” Isaías 41.6

Zé precisou sair do meio de que amava, deixou para trás aqueles que eram queridos. Zé saiu de sua cidade e de sua parentela para morar em outra cidade em busca de um sonho. Após um dia difícil, chega em casa. 

Mas o que Zé considerava casa não é o que eu e você consideramos, mas para ele era um lar. Seu teto era todo de concreto reforçado, pois sobre ele transitavam carros e caminhões, sua cama era feita de caixas de papelão e jornais, seu cobertor um casaco que havia encontrado num canto por onde passara, por travesseiro fazia o próprio braço. 

Zé se levanta e lembra de uma garrafa que a noite anterior havia enchido de água. Aquele seria seu dejejum. Lança mão da garrafa, bebe toda água para tentar tapear os sintomas da fome. Tentativa frustrada. Zé coça a cabeça e em seguida tateia os bolsos atrás de algo sólido para comer, podia ser qualquer coisa. Nada! Ali assentado começa a balbuciar lembranças de como sua vida, onde morava, era maravilhosa comparada à que ele estava vivendo ali. Já tinha enfrentado fome, escassez, dificuldades, mas nunca se encontrara tão sozinho, rodeado por pessoas alheias as necessidades dos outros. Zé não podia chorar o leite derramado. 

Não tinha provisões para voltar para seus familiares, não tinha amigos para lhe confiar uma chance. Levantou-se, dobrou o papelão, escondeu numa grande fenda daquele viaduto e saiu para tentar, por mais um dia, um emprego que lhe pudesse trazer de volta a dignidade, pois já nem se lembrava mais do antigo sonho de ser alguém, comprar uma casinha, poder retornar e ter alegria de buscar seus pais para morarem com ele. Andarilho e errante pelas ruas ouve uma voz gritando: Zé! 

Apesar de ser assim chamado, achou que não podia ser com ele. Entristecido e cabisbaixo continua uma passada após a outra. Novamente aquela voz: Zé! E cada vez aquela voz parecia estar mais próxima. De repente alguém lhe toca nos ombros e pergunta: Zé? É você? Ele se virou. Ao levantar a cabeça vê na sua frente seu melhor amigo de infância. Ficou terrivelmente inclinado a lhe dar um abraço, mas constrangido pelo estado em que se encontrava sem um bom banho alguns dias, barba para fazer, cabelo despenteado e pés descalços se contém do desejo e o restringe a um aperto de mão. 

Levantando a mão direita para cumprimentar o amigo, Zé é surpreendido com um forte abraço. Aquele amigo começa a dizer o quanto havia procurado o Zé nos últimos anos. Um tanto eufórico, o amigo começa a contar tudo o que de bom havia acontecido com ele e o quanto ele almejou compartilhar com seu melhor amigo. Coloca o Zé no seu carro, leva para sua casa. Zé toma um bom banho quente, recebe roupas limpas para vestir. 

Assentado à mesa, enquanto devorava rapidamente o alimento, é surpreendido com o que ouve: Amanhã cedo você começará a trabalhar comigo. Satisfeito, não só do alimento como também com tamanha ajuda, Zé começa a sonhar novamente, olha para o amigo e diz: Não sei como poderei pagar por tudo o que você fez hoje!

Hoje Zé é alguém, Zé tem dignidade, Zé é empresário e sócio de seu grande amigo. Zé agora entende a frase: “Sozinhos somos fracos, mas juntos somos fortes.”



Miquéias Castro

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