Zé...
“Um
ao outro ajudou e ao seu companheiro disse: Sê forte.” Isaías 41.6
Zé
precisou sair do meio de que amava, deixou para trás aqueles que eram queridos.
Zé saiu de sua cidade e de sua parentela para morar em outra cidade em busca de
um sonho. Após um dia difícil, chega em casa.
Mas
o que Zé considerava casa não é o que eu e você consideramos, mas para ele era
um lar. Seu teto era todo de concreto reforçado, pois sobre ele transitavam
carros e caminhões, sua cama era feita de caixas de papelão e jornais, seu
cobertor um casaco que havia encontrado num canto por onde passara, por
travesseiro fazia o próprio braço.
Zé
se levanta e lembra de uma garrafa que a noite anterior havia enchido de água.
Aquele seria seu dejejum. Lança mão da garrafa, bebe toda água para tentar
tapear os sintomas da fome. Tentativa frustrada. Zé coça a cabeça e em seguida
tateia os bolsos atrás de algo sólido para comer, podia ser qualquer coisa.
Nada! Ali assentado começa a balbuciar lembranças de como sua vida, onde
morava, era maravilhosa comparada à que ele estava vivendo ali. Já tinha
enfrentado fome, escassez, dificuldades, mas nunca se encontrara tão sozinho,
rodeado por pessoas alheias as necessidades dos outros. Zé não podia chorar o
leite derramado.
Não
tinha provisões para voltar para seus familiares, não tinha amigos para lhe
confiar uma chance. Levantou-se, dobrou o papelão, escondeu numa grande fenda
daquele viaduto e saiu para tentar, por mais um dia, um emprego que lhe pudesse
trazer de volta a dignidade, pois já nem se lembrava mais do antigo sonho de
ser alguém, comprar uma casinha, poder retornar e ter alegria de buscar seus
pais para morarem com ele. Andarilho e errante pelas ruas ouve uma voz
gritando: Zé!
Apesar
de ser assim chamado, achou que não podia ser com ele. Entristecido e
cabisbaixo continua uma passada após a outra. Novamente aquela voz: Zé! E cada
vez aquela voz parecia estar mais próxima. De repente alguém lhe toca nos
ombros e pergunta: Zé? É você? Ele se virou. Ao levantar a cabeça vê na sua
frente seu melhor amigo de infância. Ficou terrivelmente inclinado a lhe dar um
abraço, mas constrangido pelo estado em que se encontrava sem um bom banho
alguns dias, barba para fazer, cabelo despenteado e pés descalços se contém do
desejo e o restringe a um aperto de mão.
Levantando
a mão direita para cumprimentar o amigo, Zé é surpreendido com um forte abraço.
Aquele amigo começa a dizer o quanto havia procurado o Zé nos últimos anos. Um
tanto eufórico, o amigo começa a contar tudo o que de bom havia acontecido com
ele e o quanto ele almejou compartilhar com seu melhor amigo. Coloca o Zé no
seu carro, leva para sua casa. Zé toma um bom banho quente, recebe roupas
limpas para vestir.
Assentado
à mesa, enquanto devorava rapidamente o alimento, é surpreendido com o que
ouve: Amanhã cedo você começará a trabalhar comigo. Satisfeito, não só do
alimento como também com tamanha ajuda, Zé começa a sonhar novamente, olha para
o amigo e diz: Não sei como poderei pagar por tudo o que você fez hoje!
Hoje
Zé é alguém, Zé tem dignidade, Zé é empresário e sócio de seu grande amigo. Zé
agora entende a frase: “Sozinhos somos fracos, mas juntos somos fortes.”
Miquéias
Castro
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